terça-feira, 15 de novembro de 2011

A Função da Máscara Cênica

Um bom dia a todos amigos internautas e bloggers.
Como bem devem saber, sou um apaixonado, amante e casado com as Artes Cênicas e com tudo que se relaciona com esse belíssimo ramo do conhecimento.
Por eu fazer a faculdade de Artes Cênicas, na UEMS, aqui mesmo, em Campo Grande, resolvi então postar aqui um artigo que eu fiz sobre as Máscaras Cênicas. Espero que vocês gostem, espero que seja útil. Vale lembrar que este formato aqui colocado não é o de um artigo acadêmico regido pelas normas da ABNT. Por estar sendo posto de modo informal, tomei a liberdade de acrescentar algumas imagens que em um artigo acadêmico não estariam dispostas desta forma. Uma boa leitura.










A Função da Máscara Cênica


Leonardo Augusto Madureira de Castro1


Resumo: Há muito tempo as máscaras fazem parte do cotidiano dos homens, seja para trabalhar, ritualizar ou representar. Graças a ela, pode-se sair de si mesmo para enfim encarnar os mais diversos tipos de persona. Este artigo foi escrito principalmente com a intenção de compreender o universo místico ao qual as máscaras podem levar o ator que, deixando-se conduzir, viaja por entre os mais diversos tipos de personagens possíveis. Através de leituras de importantes obras, conversas com professores das artes cênicas e pesquisas em grupos atuantes desta arte, supõe-se que a principal função da máscara cênica é a criação da personagem.

Palavras-chave: Máscara. Função. Expressiva. Neutra.

Abstract: Long ago masks are part of everyday life of men, either to work, or represent ritualize.Thanks to her, you can leave yourself to finally embody the persona of various types. This article was written primarily with the intention of understanding the universe to which themystical shades that can lead actor, leaving lead, travels through the various types ofcharacters possible. Through readings of major works, conversations with teachers of the performing arts and research groups working in this art, it is assumed that the main function of the mask is the creation of scenic character.

Keywords: Masks. Role. Expressive. Neutral.


    A máscara cênica surgiu praticamente com o surgimento do teatro, assim como sua principal função que empregar-se-á neste artigo, ou seja, a criação e personificação da personagem, sendo assim, a intenção maior deste artigo é compreender o universo místico ao qual as máscaras podem levar o ator que, deixando-se conduzir, viaja por entre os mais diversos tipos de personagens possíveis, ou, como dizia a pesquisadora de artes cênicas Margot Berthold em seu livro “História Mundial do Teatro”, “A máscara confere ao ator uma forma de vida mais elevada e quintessencial.”
   Historicamente as máscaras fazem parte da representação em seu mais puro significado. Objetivando o conhecimento desta arte milenar, fez-se necessário o estudo dos diversos tipos e estilos de máscara, assim como suas respectivas funções. De fato, a utilidade assim como a diversidade da máscara é inúmera, podendo ser usada como por exemplo, para disfarce, como um símbolo de identificação, para esconder a identidade, para uma transfiguração, uma representação de espíritos da natureza, deuses, antepassados, seres sobrenaturais ou rosto de animais, participação em rituais, interação com dança ou movimento, como peça fundamental nas religiões animalistas, simplesmente como mero adereço, ou para previnir contágios de outras pessoas. Mas fiquemos aqui atentos somente à sua função cênica.
    Com o surgimento do teatro primitivo, o homem descobre as máscaras como pinturas no rosto. Eram usadas para representar deuses e forças maiores que as dos homens. Ao colocar a máscara, o homem recebia essas forças que o ajudavam a caçar, a curar doenças, efetuar rituais e a enfrentar sua perigosa rotina. Entende-se então que as máscaras serviam exclusivamente para fins religiosos. Entende-se também que, até então, mesmo sem que tivessem inventado o teatro como ele é, as máscaras já serviam para a personificação da personagem que eles acreditavam viver. Era mais importante para o homem primitivo essa personificação de seus deuses, do que qualquer tipo de arte que em dia ele poderia conhecer, além do mais, a ciência que ainda não tinha sido descoberta não deu a eles as explicações necessárias para manipular e conhecer todos os fenômenos que eles consideravam divinos. Desde sua origem o ser humano tem medo do desconhecido, o que explica as primeiras divindades vinculadas a tudo que por eles era inexplicável, mas também é certo quando lembramos que este mesmo homem tem fascínio pelo estranho, o que gerou curiosidade, que por sua vez criou a vontade de controlar, válvula propulsora da confecção das primeiras máscaras.
Máscara gigaku
    Além da função cênica, em alguns países do oriente, explica Margot Berthold em seu livro “História mundial do teatro”, as máscaras eram peças indispensáveis na dança gigaku - “música arteira”No oriente, por volta do ano de 612, depois que a teologia chegou no Japão, fez-se preponderante este estilo que “cresceu por todo o país, sendo apresentado diante de todos templos nas duas grandes festividades religiosas, o aniversário de Buda e o dia dos mortos.” Ainda segundo a pesquisadora “(…) as máscaras gigaku eram utilizadas nas procissões iniciais de bailarinos e músicos que seguiam-se em pantomima, representadas com grotescas máscaras de elmo com frande narizes de rapina, poderosas mandíbulas e globos oculares salientes.” Depois desta descoberta artística, por decorrer do século VIII, provindo do gigaku,surge o bugaku, estilo de dança este, que utilizava uma máscara mais simples e humana, com coloração branca e traçados fortes nas sobrancelhas finas e nos olhos, sempre esticados. Destes predecessores surgiu dois importantes estilos de dança-teatro na China, o sarugaku e o dengaku que por sua vez, foram os precursores do Nô, criado pelos atores sarugaku Kwanami e seu filho Zeami.                                                      
    Ainda segundo Berthold, dentro do , existe o coro, assim como na tragédia grega, que usa roupas escuras e senta-se no chão, mas não intervém na cena. O protagonista da peça é o chamado shiteEste usa máscara que, de acordo com o papel, pode representar um valente herói, um velho barbado, uma jovem noiva ou uma anciã atormentada. Por se usar a máscara, os japoneses não veem nada de estranho no fato de um homem expressar os sentimentos de uma mulher, sua felicidade ou desespero. Ao contrário, consideram a máscara como a expressão literal de uma verdade superior. As máscaras entalhadas dos atores nô são, por si próprias, obras de arte de alta qualidade, simbolizam a personagem em sua forma mais pura, limpa de qualquer imperfeição. De fato, é sim uma característica dos povos orientais essa dedicação religiosa às artes em um contexto geral. No teatro Nô, os atores treinavam horas as mesmas posições e movimentações, justamente para que um ator não se desconectasse com sua máscara e deixasse o sentido da peça perder-se. Cada passo, cada gesto, era milimetricamente estudado. As máscaras Nô exigiam precisão gestual e de sentido, expressas principalmente pelo próprio corpo do ator, que tornava-se voz quando controlado pelas máscaras expressivas de rosto cheio desta arte oriental.
    Mais tarde, com a consolidação do teatro, na Grécia antiga, as primeiras máscaras gregas (que possivelmente foram criadas por Téspis, famoso por ser conhecido como o primeiro ator), além de serem usadas para a vivência da personagem, tinham muita expressividade, o que ajudava o grande número de espectadores a entenderem o sentimento da cena. Elas possuíam proporções maiores que a face do ator e traços acentuados, para que todo o o público pudesse assimilar o caráter da personagem. As máscaras também portavam grandes perucas, e no local em que se encaixava a boca havia uma espécie de cone que permitia uma maior propagação da voz. Existem também vários tipos de máscaras com finalidades complexas diferentes, mas todas atendendo a essa mesma função básica da criação da personagem. Segundo o dicionário, máscara, é um artefato que representa uma cara ou parte dela, e que se põe no rosto, principalmente por ocasião do carnaval, para disfarçar a pessoa que o põe. De fato, o dicionário não explica exatamente o que se pode referir deste objeto tão forte no cenário cênico, assim como em outras profissões. Como se pôde observar na descrição do objeto pelo dicionário, a utilidade principal da máscara está ligada ao carnaval. De fato, as máscaras são usadas até hoje nos carnavais, mas isso não significa que esta é a função mais importante da máscara.
    Ainda se tratando dessa referência carnavalesca que se liga ao objeto cênico, vê-se historicamente que a máscara para tal finalidade tem referência dentro da Comédia Dell'arte, com as máscaras do Capitano, do Pantalone, do Pulchinella, Dottore, Arlecchuino, da Colombina, do Pagliaccio, entre outros personagens típicos desta arte renascentista. Neste estilo teatral, os atores preparavam-se e apresentavam-se por anos dentro de uma mesma personagem utilizando as mesmas máscaras fixamente. Muitos atores viviam exclusivamente um só papel até a sua morte.     
Máscaras da Comédia Dell'arte
 Este estilo, nascido do teatro popular improvisado, teve início no século XV, na Itália e se desenvolveu posteriormente na França, mantendo-se forte até o século XVIII. Suas apresentações eram feitas pelas ruas, praças pública, teatros e cortes. Ao chegarem à cidade pediam permissão para se apresentar, em suas carroças ou em pequenos palcos improvisados. As companhias de Comédia Dell’arte eram itinerantes e possuíam uma estrutura de esquema familiar. Seguiam apenas um roteiro, que se denominava “canovaccio”, mas possuindo total liberdade de criação. Dentro da Comédia Dell'arte, as máscaras são tão importantes quanto a própria presença do ator em cena. Vê-se claramente exemplos do que se chama Máscaras Expressivas que são compostas de grandes proporções e traços acentuados, especificando e caracterizando os “tipos”, específicos neste tipo de teatralização. O comportamento destas personagens enquadrava-se em um padrão: o amoroso, o velho ingênuo, o soldado, o fanfarrão, o pedante, o criado astuto. As máscaras utilizadas deixavam a parte inferior do rosto descoberto, permitindo uma dicção perfeita e uma respiração fácil, ao mesmo tempo que proporcionavam o reconhecimento imediato da personagem pelo público, os “tipos” citados logo acima. As personagens representadas inseriam-se em três categorias: a dos enamorados, a dos velhos e a dos criados (zannis). O mais popular é, sem dúvida, Arlequim, o empregado trapalhão, ágil e malandro, capaz de colocar o patrão ou a si em situações confusas, que desencadeavam a comicidade. No quadro de personagens, merecem ainda destaque Pantalone ou Pantaleão, um velho fidalgo, avarento e eternamente enganado, era um velho mercador veneziano, conservador e muito avarento, autoritário com seus filhos e empregados e que não suporta ser questionado. Geralmente em uma filha em idade de casar, faz o possível para não pagar o seu dote. Outros personagens tentam tirar proveito de sua avareza. É também um personagem lascivo, e
sua atração por jovens donzelas só não é maior que sua paixão pela riqueza. O Dottore, ou Doutor que mais fala do que age, nunca frequentou a universidade, tem especialização em tudo, e pode falar um bocado de besteiras sobre qualquer assunto. Ligado à boca, tanto pra comida quanto pra falação: ele come muito. Ele é essencialmente barrigudo, e não muito intelectual. E também o Capitano, ou Capitão, um covarde que contava as suas proezas de amor e batalhas, mas que acabava sempre por ser desmentido. Anda sempre com imponência como se estivesse sempre galopando, podendo também usar uma espada que, nas mentiras é muito bem manejada, mas ao se assustar, o que ocorre com facilidade, a deixa amolecer-se perdendo toda a compostura.
    Agora, como é possível viver estas personagens que se desencadeiam a partir da máscara cênica, sem que o ator se desconectasse dela, fazendo assim de nada valer o objeto? Naturalmente, o preparo dos atores para este tipo de experiência cênica é árduo e consiste em uma série de exercícios específicos para a arte das máscaras. Mas, e se o ator não possuí essas habilidades e técnicas necessárias para se vestir de uma máscara cênica? Segundo o professor Marcus Villa Góis, do curso de Artes Cênicas –Teatro & Dança da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), o corpo do ator é supervalorizado quando acompanhado de uma máscara.

Máscara Nô. Exemplo também de Máscara Expressiva.
Isso se reflete na arte do ator: a máscara expressiva (...), é formada por traços muito fortes. Comparada a um rosto humano percebemos o grotesco e sua dimensão monstruosa. Esse rosto grotesco, ao ser vestido, transfere para o corpo a responsabilidade de simulá-lo. Neste momento percebemos o corpo, e não somente a máscara, como ser composto de unidade. Acontece que este corpo nem sempre é treinado para aquela máscara e então podem ocorrer distorções entre máscara e corpo.Vermos o corpo cotidiano do ator, com seus trejeitos e maneirismos, vestir uma máscara expressiva sem procurar, ao menos, dissimular sua presença é muito estranho. Assim como o é, vermos o ator se esforçando para simular um corpo a partir de sua própria experiência de simulação, sem conseguir ir além do que é conhecido por ele. Quando o ator busca transformar o seu corpo cotidiano surge uma expressão que nunca é completamente desconhecida do ator, como é para ele a máscara. Isto ocorre devido a sua história corporal, ele carrega consigo vícios e qualidades corporais que desenvolveu ao longo da sua vida.
Antes de poder vestir uma máscara e deformar seu corpo cotidiano, o ator precisa encontrar um estado psicofísico, que não signifique nada em potencial, mas que haja uma presença cênica, a qual, antes de qualquer ação, indique a existência de uma representação. Um estado psicofísico calcado na neutralidade do corpo, diferindo do comum e do habitual em nós. (Marcus Villa Góis)

Máscara Neutra
    Percebe-se então que, antes de poder exercer a principal função da máscara cênica, é preciso antes dominá-la. Para isso, existe uma variação de máscara que, ao invés de transformar o ator naquilo que a máscara representa, o impele a um estado simples e de neutralidade no corpo do ator, conhecida como Máscara Neutra. Segundo o grupo “Núcleo de Máscara” da Escola Livre de Teatro (ELT), atuante principalmente na pesquisa e desenvolvimento para o uso da máscara cênica “a máscara neutra é um grande instrumento para desenvolver o trabalho físico e expressivo do ator. Por ser uma máscara didática, ela nos possibilita aprofundar e aprimorar o potencial expressivo do artista, através da ação de um corpo vivo e presente. (...).” De fisionomia simples e simétrica, sem conflitos, que propõe ao ator ampliar todos os seus sentidos encontrando a essência das ações e das situações, a Máscara Neutra, através do silêncio, se relaciona com todo o universo presente. Importante também citar que ela não se trata de um personagem, é na verdade, um estado que se apoia na calma e na percepção, fontes de vida para todas as outras Máscaras. Através dela o ator entende o que é um corpo decidido, presente, vivo dentro de um estado de representação, fora das convenções. Além disso esta máscara é um ótimo objeto de estudo, pois ela contribui tecnicamente na preparação do ator para o trabalho, para o esvaziamento do corpo, ou seja, a limpeza de vícios expressivos e trejeitos, para a presença cênica, pois mantém o a disponibilidade do ator através da escuta, visão e percepção, no tempo presente, para a concretude expressiva do corpo, sua relação com o espaço, com objetos e com outros, seu compromisso e envolvimento com a ação realizada, com a criação de elementos teatrais como o jogo, a improvisação, e a organização do trabalho do ator e na cena através da improvisação.
    Para Lecoq, criador de vários jogos desenvolvidos para o aprimoramento da técnica necessária para o uso deste adereço cênico, a máscara neutra é um estado de equilíbrio, de economia dos movimentos, que apenas se move na economia dos seus gestos e das suas ações, pois trabalha o movimento partindo do neutro e dá pontos de apoio essenciais para a interpretação que acontecerá depois. O ator exprime muito melhor os desequilíbrios dos personagens ou os conflitos.
    Para Villa Góis, estudioso da máscara cênica, especializado em comédia dell'arte e pesquisador dos jogos cênicos de Lecoq, o objetivo do trabalho com a máscara neutra é conscientizar o ator da sua corporeidade, buscando anulá-la. O método utilizado para isso surge através de uma “via negativa”, de uma economia de gestos. Busca-se sempre uma neutralidade, na verdade impossível, já que cada ser tem sua específica corporeidade. Os atores devem se esforçar para eliminar seus trejeitos e tendências, o que cria a possibilidade, posteriormente, de ampliar sua corporeidade. Num momento posterior, de improvisação com o personagem, ele poderá criar uma nova postura simulada e uma forma de se movimentar desligada da sua movimentação cotidiana.
    Destas máscaras, muitas variações surgiram, tanto com finalidade didática, como no caso da máscara neutra, quanto com finalidade artística dentro da característica de cada máscara expressiva. Pode-se dizer que as máscaras de estilos provindos dessas outras, são espécies de aprimoramentos, como se da máscara neutra os artistas artesãos as evoluíssem de estilo em estilo até alcançar a expressiva. De fato isso não é o que acontece, tanto que os primeiros registros de máscaras físicas são categorizadas como máscaras expressivas.
    Além destas duas principais modalidades de máscara cênica, existem também a Máscara Larvária, as Máscaras e as Meias-máscaras Características, as Máscaras de Tragédia e Comédia, entre tantas outras.
Máscaras Larvárias.
    Segundo Cuca Bolaffi, atriz e diretora do grupo “Núcleo de Máscaras” da ELT, as Máscaras Larvárias são rostos inacabados, formas simplificadas da figura humana, que remetem ao primeiro estado dos insetos. Fazem parte do grupo de Máscaras inteiras e silenciosas, que não permitem a voz, mas exprimem a essência da palavra falada através das ações. Podem ser jogadas tanto pelo lado animal quanto pelo humano. Têm um jogo largo, normalmente orientado pelo nariz.  
    A Máscara e a Meia-máscara2 Característica são máscaras expressivas que trabalham o âmago do sentimentalismo da personagem, sendo usadas em muitas companhias para o estudo do ator iniciante. São chamadas “Características” porque exprimem sentimentos puros do homem, como a raiva, o ciúme, medo, etc. “Meia-máscara” porque são máscaras que possuem a mesma função, mas sem a parte inferior do rosto, deixando a boca do ator livre, proporcionando maior liberdade na fala.
Máscaras de Tragédia e Comédia, 
as mais famosas das 
representações do teatro.
    Máscaras de Tragédia e Comédia são certamente as mais famosas quando referido o teatro. De fato, estas peças tornaram-se a marca desta arte como um todo. As máscaras de tragédia e comédia originam-se no teatro grego. Eles vieram para simbolizar o drama no mundo ocidental. Estas máscaras são construídas com traços simples, de mesmo tamanho dimensional da cabeça do ator, mas também podem ser exageradas e grotescas, como muitas das máscaras expressivas ou como as máscaras da comédia dell'arte, por exemplo, mas é certo que todas as máscaras de Tragédia e Comédia tem em comum a representação e a persona dos traços mais simples e primários do ser humano: o sorriso e o desespero, a felicidade e a tristeza, o amor e o arrependimento.               
    A partir destes estudos referentes à máscara expressiva e a máscara neutra respectivamente, conseguimos então fazer comparações simples, mas que abrangem todas as outras formas e estilos de máscaras. Na Máscara Expressiva vemos traços marcantes, caracterização do estado emocional, uso para a personificação das características da máscara, possuí inúmeros formatos, tamanhos e estilos, é usada principalmente em espetáculos, incentiva o ator a usar o corpo expressivo e é usada na criação da personagem. Na Máscara Neutra vemos a presença de traços neutros, a não caracterização do estado emocional, é usada para neutralizar o corpo do ator, possuí vários formatos e tamanhos, é usado principalmente em aulas, incentiva o ator a usar o corpo neutro, mas também é usada na criação da personagem. Ambas as máscaras podem ser usadas para se trabalhar qualquer tipo de personagem, as expressivas para o tipo de persona que a máscara exige e as expressivas para todo e qualquer tipo de papel. Isso se dá simplesmente e unicamente por se tratar de uma máscara neutra, e nada mais. Sua neutralidade envolve o trabalho corpóreo do ator e o incita a livrar-se de seu corpo repleto de vícios e trejeitos.
    Como vimos anteriormente, é através dos jogos de máscara neutra que o ator aprende a dominar seu corpo, influenciado todas as outras “máscaras” que ele tem de usar em sua profissão. Sempre que o ator, principalmente o iniciante, termina de representar um papel que cabe a ele a construção da personagem sem a utilização de máscaras, tende a permanecer alguns vícios deste recente trabalho em seu corpo, pois este, além do rosto, principal meio expressivo do ator, tende a modificar-se para alcançar as manias e os sentimentos de determinada personagem. A Máscara Neutra também é usada para que ele se “limpe” destes traços e passe a se filtrar para um novo trabalho.
    Percebe-se então, que todas as máscaras tendem a trabalhar a personificação de sua representatividade, tendem a desmistificar a criação de uma determinada personagem e a maximizá-la no corpo do ator preparado para tal fim. Pode-se dizer também, que, assim que o ator a utiliza, acaba por deixar de ter controle sob seu corpo e passa a ser controlado pela máscara, assim, a pessoa física não existe mais, dando lugar a pessoa mística que através de um corpo preparado e um rosto absoluto leva a todos para dentro de seu mundo único, perverso, sensível, vivo.
    Sendo assim, a máscara cênica, encarada por muitos, principalmente leigos, como mero objeto cênico, ou de utilidade apenas carnavalesca, mostrou-se importante na própria criação das artes cênicas. Ao longo de todas as culturas é possível perceber a importância dessa poderosa ferramenta do ator. Isto expande-se a todas os tamanhos e estilos de máscaras. Percebe-se que a máscara é um estimulador, a máscara está posta para o ator como a “fagulha” que acende o fogo brincante, pois como dizia Duvignaud, “invoca uma atitude, um comportamento, uma pessoa imaginária, (...) uma realidade supra-real que se torna real pela comunicação que ela implica e pela mensagem recebida”.

REFERÊNCIAS: GOIS, Marcus. Estradas de Sonhos: Uma contribuição circense na formação do ator. 2005. 177f. Dissertação (Mestrado em Artes Cênicas) – PPGAC - UFBA, Salvador.

CAILLOIS, Roger. Os Jogos e os Homens. Lisboa: Edições Cotovia, 1990. (1ª e 2ª parte).

LECOQ, Jacques. O corpo poético – uma pedagogia da criação teatral. SP : SENAC-SP, 2010.

BERTHOLD. Margot. História mundial do teatro. São Paulo: Perspectiva, 2004.

BOLAFFI, Cuca. Máscara Neutra. Disponível em <http://mascaraelt.blogspot.com/p/mascara-neutra.html>. Acesso em: 07 de nov. 2011, 18:39:25.



1. Leonardo Augusto Madureira de Castro é acadêmico do 4º semestre do curso de Artes Cênicas & Dança – UEMS, ator e sonoplasta do grupo Teatral Grupo de Risco (TGR), atuante desde 2011.
R. dos Engenheiros, 130, Tiradentes. leonardo-_-augusto@hotmail.com. 09 de nov. 2011.
2. Aqui vemos estas meias-máscaras como um estilo específico. Mas na verdade todas as máscaras em si tem variações de máscara inteira e meia-máscara.


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